O tempo corria de forma diferenciada desde o momento em que me
sentei àquele sofá.
O rapaz de traços rudes observava o caixão feito em vidro,
que mantinha intacto o corpo do rapaz que havia sido depositado em seus braços.
Era notável vê-lo pensativo e agradável sentir seus
sentimentos confusos.
– Sinto-te confuso... Em dúvidas dos propósitos que seguias
antigamente. – Espezinhei-lo, sorrindo sarcasticamente.
– É estranho Alice. Deveras estranho... Jamais imaginaria
uma situação como esta...
Distraí-me enquanto o escutava e observei o belo corpo que repousava
em um sarcófago translúcido, ele trazia uma estranha sensação de paz, um elo sanguíneo...
Um quê de almas ligadas...
– Eu não poderia deixá-lo... É como se...
“Minha volta a este plano dependesse do sacrifício dele...” –
pensei sem completar a frase anterior, mas estava claro aos olhos do viking o
que se passava em minha mente.
Ele me conhecia melhor que ninguém...
– Será difícil explicar ao O’Toole...
“O’Toole... O’Toole... O’Toole...” – Franzi meu cenho tentando
recordar algo mais a respeito desse nome.
– O Príncipe Encantado... – Murmurou Thorn, buscando ver
algo mais em meus olhos...
Um sorriso se espalhou fino em meus lábios, porém meus olhos
continuavam vazios, observando sempre o corpo repousado no caixão tal qual
Branca de Neve à espera de seu beijo mágico...
– Devo comunicá-lo, Alice? – Thorn murmurou novamente,
tentando arrancá-la de seus devaneios...
Aproximei-me do caixão e acariciei o vidro.
– Devo comunicá-lo...
Meus olhos voltaram a ficar vazios e toda aquela sensação
frívola desaparecera. Aquele corpo no caixão serviu a seus propósitos. Sentiria
falta dele, mas agora o mundo precisava compreender que ao se brincar com a
morte, era comigo que eles iriam se entender.
– Temos coisas mais importantes para fazer, Thorn... Por
enquanto, deixe o Príncipe Encantado em paz. Ambos sabemos que ele em breve irá
me procurar... Por vontade própria.
Beijei levemente o sarcófago e murmurei...
– Descanse em paz... Togarini...
"O cheiro da morte está em todo lugar. O silêncio atordoa não deixa você pensar. Você sente em sua espinha, você sente no ar. O medo te consome você reza para acordar".
(Zumbis do Espaço)