Friday, June 06, 2008

Os Adormecidos

Já havia um bom tempo que eu não encontrava Madeleine e um bom tempo que eu não parava em um hospital. Jean e Thorn agradeciam no fundo de suas almas por eu estar aparentemente preservando a minha vida, mas o fato de ter sobrevivido é que os demônios estranhamente andavam bem comportados e os problemas que mais estavam surgindo vinham de pessoas normais e das quase normais.
Os adormecidos, pessoas que não enxergam a realidade, tinham bandidos, seriais killers, terroristas, pedófilos e coisas que não valiam à pena. Para esses casos que eu esbarrava, podia no máximo dar voz de prisão e atirar na perna, braço ou em qualquer local que não fosse matá-los. Geburah nem se manifestava em seu descontentamento, já que a justiça acima de tudo se preocupa apenas com os despertos e as aberrações.
Togarini, sim, parecia agitado. O arcanjo da morte, esse em especial, cuida de necromantes como eu e Thorn, mas exige sacrifícios em seu nome e se diverte quando criamos zumbis, afinal, qual é a graça de ser um necromante se você não ressuscita os mortos?
Há poucos dias atrás, para piorar, Togarini teve que aceitar dois sacrifícios a contragosto. Não tenho culpa se eram praticantes de Voodoo que para manterem suas vidas eternas, enganavam as pessoas e praticamente trocando suas almas de corpos. Nunca foi tão divertido brincar com os bruxos. Sequer precisei usar meus dons, para fazer os bruxos voltarem aos corpos decrépitos e devolver as almas dos donos aos seus verdadeiros corpos.
O problema nisso tudo é que são experiências como estas que acabam despertando as pessoas e elas dizem adeus as suas tão simplórias vidas, onde morrer repentinamente e aparecer com o corpo todo rasgado seria explicado pelos jornalistas como o ataque de crocodilos nos pântanos de Nova Orleans.
Por um momento eram esses pensamentos que me tomavam, quando meus olhos não deixaram escapar a cena de um beco.
Parei meu carro bruscamente e corri para a cena do crime. Havia tempo que eu não via uma gárgula solta e estava lá, com suas asas abertas, garras manchadas de sangue, enquanto sua cauda balançava de um lado para o outro.
Em casos comuns um policial e um agente gritam para a pessoa se afastar da vítima e gritam a ordem de prisão, mas eu não tinha tempo para isso. Atirei sem avisar, atingi aquele monstro que movia o corpo com o impacto dos tiros, recuando do corpo que estava caído. Um, dois, três. Descarreguei o pente praticamente e algumas pessoas me viram saraivando o corpo com a arma. Distantes demais para distinguirem os ferimentos que eu causava. Longes demais para reparar que aquela mulher, aos olhos vistos dos adormecidos, era uma gárgula que regenerava. Malditos seres eram aqueles que sobreviveram os tempos da Inquisição. As pessoas sempre acham que estas bestas não possuem tanta inteligência, que são mais fúria do que cérebro, mas ela deixava o corpo cair, deixava o corpo tremer, deixava que todos vissem uma maluca atirando de forma descontrolada em uma pessoa inocente e os policiais gritavam comigo, mandando que eu largasse a arma. Togarini estava ansioso. Uma gárgula, um banquete delicioso. Mais gritos e por mais que eu gritasse para eles não interferirem, que eu era uma agente do F.B.I. eles não acreditaram. Senti apenas aquele calafrio que me avisava que alguém me atacaria. A gárgula estava erguendo a cabeça, ela sorria de um modo sádico e infelizmente, tive que deixar os policiais me golpearem. Malditos sejam os adormecidos, pois eles não sabiam quem eles estavam deixando escapar.