Wednesday, July 29, 2009

Um momento de paz

Ainda posso me lembrar da visão que estarreceria qualquer sensitivo ou avatar como eu. Nesse meu ultimo encontro com a Gárgula, eu fiz um jogo arriscado e meu lado sensitivo podia por horas ver Togarini apertando meu pescoço, assim como certos momentos era Geburah quem eu via. Mas também pude sentir cada pescoço que era apertado, naquele cenário complexo, já que a gárgula era uma forte candidata a ser uma avatar de um arcanjo da morte, assim como possuía um forte senso de honra, de justiça.
Ela em sua matança, nada mais fazia do que proteger pessoas inocentes que eram caçadas por uma família de inquisidores, eis que aqui entrava a lei dos mais fortes e Ângela se igualava a mim. Mas as monstruosidades se diferenciavam por um simples motivo, no começo eu caçava um monstro, que tinha matado minha família. Ângela era o monstro que caçava humanos que queriam destruir a “família” dela. Eu comecei a matar por puro prazer, depois que percebi que minha vingança não poderia ser completada. Ângela mata por prazer, mas em alguns casos mata por obrigação. Há muito já não me sinto obrigada a fazer esse tipo de coisa.
Mas no fim, aquelas palavras da Ângela não saiam de minha cabeça. Ela desejava uma morte honrada e eu estava me tornando uma verdadeira canalha tal qual Geburah.
Sim! No final das contas o verdadeiro tapa na cara que a Ângela me deu, foi me acordar para o fato de que eu estava me tornando tão manipuladora quanto Geburah.
- Eu descobrirei e darei a morte honrada que tanto desejas, Gárgula.
Acho que foram minhas ultimas palavras até sentir meu corpo sendo arremessado e Ângela pisar em meu peito com uma superioridade que eu não via há muito tempo.
- Estarei esperando, Inquisidora.
Não sei quanto tempo tinha passado depois que a Ângela me abandonou, mas eu podia ver Togarini ali, ajoelhado ao meu lado, deixando suas mãos deslizarem suaves pelo meu corpo.
- Mais costelas quebradas. Foi difícil segurá-las para que não perfurassem mais uma vez seus pulmões. Por que desejas tanto que eu ceife sua vida, Alice?
Doía tudo. Corpo, respiração, manter os olhos abertos. Minha garganta queimava, arranhava de alguma forma. Togarini erguia a minha mão e deixava-me tocar seu pescoço, eu abria os olhos em tempos cada vez mais espaçados. Havia uma marca ali que causara um calafrio tão forte ao meu corpo e que estranhamente causava o mesmo calafrio em Togarini.
- Geburah... – Murmurei fraco, ainda sentindo meu corpo impotente de se erguer e ir embora.
- Está com Ângela, alimentando o desejo dela por vingança contra os McArthur.
Mais um arrepio forte e novamente Togarini reagia de mesma forma. O que estava acontecendo realmente?
- Togarin...
- Shhh! Alice... – Ele me interrompeu em uma voz baixa, mesmo eu tendo falado quase sem voz. Eu ainda podia sentir suas mãos percorrendo meu corpo. Sem malicias, sem intenções. Ele estava apenas ali, me fazendo companhia, enquanto eu sentia aquela vontade de não me levantar mais.
- Não me peça para fazer isso, Alice...

Thursday, July 09, 2009

Conversas Francas – Parte II

As mortes continuaram por demasiado tempo. O caos gerava medo e o medo gerava insatisfação. Eu sorria em certo ponto, enquanto outros se mantinham sérios, resignados ou incomodados.
A polícia de Nova Orleans tinha suas linhas congestionadas, o prefeito da cidade tinha passeatas diurnas à porta de sua casa, exigindo resolução dos casos. Estupradores, assassinos, seriais killers, vampiros, lobisomens, demônios, toda a laia sedenta de sangue se fazia mais presente.
Nem mesmo Jean suportara por tanto tempo ficar de braços cruzados, mas agora, poucos eram os avatares de Geburah que conseguiriam instaurar novamente a lei.
- Não sei se você fez isso para me agradar, trazendo a mim mortes em massa, ou se você resolveu se rebelar contra Geburah.
Togarini observava a cidade ao meu lado, deixando o vento noturno acariciar as penas mórbidas de suas asas. No entanto, eu me mantinha ali em silêncio, observando de cima do prédio um grupo interessante de criaturas infernais lutando contra a gárgula.
Ela lutava furiosamente, pois pouca coisa atrás havia um humano em vias de morrer.
- Não irá interferir? – A voz de Geburah vinha imponente, como se apertando minha alma ao me relembrar de que eu também era avatar dele.
- Não ainda... – Murmurei, sem desvencilhar meus olhos da batalha. A pessoa que estava morrendo murmurava algo e por ínfimos segundos, os Arcanjos viram a gárgula parar, girando na direção do humano que falara algo. Puderam presenciar e sentir o urrar da gárgula de desespero e dor e perceberem o quão mais forte ela pareceu se tornar, depois desse evento.
- Ela... – Murmuraram ambos, tornando-se mais interessados na batalha que continuava, onde a gárgula esquecia o que era dor e se tornava uma das mais ferozes criaturas bestiais.
A brutalidade dos assassinatos que a gárgula regia, satisfaria vários Caídos da casta maior e até mesmo Geburah e Togarini pareciam deleitados com o que estava acontecendo lá embaixo.
- Alice...
Era tarde demais para eles falarem algo para mim, pois a batalha encontrava seu fim e a gárgula caía de joelhos, extremamente ferida, deixando seu sangue mesclar com a do humano. Ela gritava em pesarosa perda daquela vítima que jamais teria como se defender sozinha, abraçando o corpo inerte e implorando perdão por não ter sido mais forte. Geburah sentia o amargo gosto de vitória e da derrota, porque no fim, aquela gárgula estava protegendo um inocente, estava honrando sua palavra em proteger um dos descendentes da linhagem Morgan.
- Ângela...
- GRRRRRRR!!! – Aquela voz, aquela humana parecia estar sempre presente em suas últimas derrotas, em seus momentos mais frágeis. Mais uma vez meu corpo se encontrava extremamente ferido, mas não seria dessa vez.
Por mais difícil que foi para mim, larguei o corpo de James “Morgan” Norrington ao chão e avancei sobre ela, fazendo com que ela se lembrasse que ainda era uma mera mortal. Pude escutar alguns ossos estalando, mas não vi medo, não senti o coração de ela acelerar. Ela mantinha o olhar dela frio sobre mim, inquirindo-me, parecendo desejar que eu ceifasse sua vida frágil.

- Você disse que não os caçaria. Disse que os deixaria em paz.
- E assim eu fiz Angela. Eu o deixei em paz, não interferi, quando eu poderia ter interferido. Deixei-o na própria sorte de enfrentar este mundo que ambas sabemos ser traiçoeiro. Apenas você poderá salvá-los, se ainda preferir esta prisão que cerceia sua liberdade.
- Eu não posso citar o nome dela. Não posso dar a uma Inquisidora o nome de quem me criou.
- Ou se não você estaria quebrando um juramento que lhe foi imposto. Diga-me Angela, em que momento a família Morgan quebrou o trato entre vocês gárgulas e eles?
Minha mão apertou aquele pescoço, eu percebia a respiração da humana ficando cada vez mais difícil, mas ela ainda me olhava daquela forma. Desde quando ela descobriu o vínculo?
Meus dentes rangiam, eu apertava cada vez mais aquele pescoço, sentindo o cheiro de sangue que escapava em finos filetes de sangue que escapavam pelas feridas que causei com a minha garra.
- Sua... liber... dade.... Es... tá.... em... min........
A gárgula se regenerava e eu estava perdendo minhas forças... era um jogo perigoso, já que a peça que movi poderia significar minha morte. Togarini se encontrava ali, assim como Geburah. Ambos agiam tanto por mim, quanto pela gárgula em um complexo cenário onde ambos eram vítimas e predadores.
- Não me peça para fazer isso, Alice.
- Você ainda pode matá-la, inquisidora.
- DESGRAÇADA!
Meu corpo caía ao chão, sem forças, mas não inconsciente o suficiente para sentir a gárgula agarrando meu capote e erguendo meu corpo mais uma vez.
- Dê-me uma morte honrada... Descubra o nome de minha criadora e dê-me uma morte honrada, mas não fique mais de braços cruzados... Dê-me reais motivos para que eu a mate inquisidora, enquanto honro minha palavra...