Thursday, July 09, 2009

Conversas Francas – Parte II

As mortes continuaram por demasiado tempo. O caos gerava medo e o medo gerava insatisfação. Eu sorria em certo ponto, enquanto outros se mantinham sérios, resignados ou incomodados.
A polícia de Nova Orleans tinha suas linhas congestionadas, o prefeito da cidade tinha passeatas diurnas à porta de sua casa, exigindo resolução dos casos. Estupradores, assassinos, seriais killers, vampiros, lobisomens, demônios, toda a laia sedenta de sangue se fazia mais presente.
Nem mesmo Jean suportara por tanto tempo ficar de braços cruzados, mas agora, poucos eram os avatares de Geburah que conseguiriam instaurar novamente a lei.
- Não sei se você fez isso para me agradar, trazendo a mim mortes em massa, ou se você resolveu se rebelar contra Geburah.
Togarini observava a cidade ao meu lado, deixando o vento noturno acariciar as penas mórbidas de suas asas. No entanto, eu me mantinha ali em silêncio, observando de cima do prédio um grupo interessante de criaturas infernais lutando contra a gárgula.
Ela lutava furiosamente, pois pouca coisa atrás havia um humano em vias de morrer.
- Não irá interferir? – A voz de Geburah vinha imponente, como se apertando minha alma ao me relembrar de que eu também era avatar dele.
- Não ainda... – Murmurei, sem desvencilhar meus olhos da batalha. A pessoa que estava morrendo murmurava algo e por ínfimos segundos, os Arcanjos viram a gárgula parar, girando na direção do humano que falara algo. Puderam presenciar e sentir o urrar da gárgula de desespero e dor e perceberem o quão mais forte ela pareceu se tornar, depois desse evento.
- Ela... – Murmuraram ambos, tornando-se mais interessados na batalha que continuava, onde a gárgula esquecia o que era dor e se tornava uma das mais ferozes criaturas bestiais.
A brutalidade dos assassinatos que a gárgula regia, satisfaria vários Caídos da casta maior e até mesmo Geburah e Togarini pareciam deleitados com o que estava acontecendo lá embaixo.
- Alice...
Era tarde demais para eles falarem algo para mim, pois a batalha encontrava seu fim e a gárgula caía de joelhos, extremamente ferida, deixando seu sangue mesclar com a do humano. Ela gritava em pesarosa perda daquela vítima que jamais teria como se defender sozinha, abraçando o corpo inerte e implorando perdão por não ter sido mais forte. Geburah sentia o amargo gosto de vitória e da derrota, porque no fim, aquela gárgula estava protegendo um inocente, estava honrando sua palavra em proteger um dos descendentes da linhagem Morgan.
- Ângela...
- GRRRRRRR!!! – Aquela voz, aquela humana parecia estar sempre presente em suas últimas derrotas, em seus momentos mais frágeis. Mais uma vez meu corpo se encontrava extremamente ferido, mas não seria dessa vez.
Por mais difícil que foi para mim, larguei o corpo de James “Morgan” Norrington ao chão e avancei sobre ela, fazendo com que ela se lembrasse que ainda era uma mera mortal. Pude escutar alguns ossos estalando, mas não vi medo, não senti o coração de ela acelerar. Ela mantinha o olhar dela frio sobre mim, inquirindo-me, parecendo desejar que eu ceifasse sua vida frágil.

- Você disse que não os caçaria. Disse que os deixaria em paz.
- E assim eu fiz Angela. Eu o deixei em paz, não interferi, quando eu poderia ter interferido. Deixei-o na própria sorte de enfrentar este mundo que ambas sabemos ser traiçoeiro. Apenas você poderá salvá-los, se ainda preferir esta prisão que cerceia sua liberdade.
- Eu não posso citar o nome dela. Não posso dar a uma Inquisidora o nome de quem me criou.
- Ou se não você estaria quebrando um juramento que lhe foi imposto. Diga-me Angela, em que momento a família Morgan quebrou o trato entre vocês gárgulas e eles?
Minha mão apertou aquele pescoço, eu percebia a respiração da humana ficando cada vez mais difícil, mas ela ainda me olhava daquela forma. Desde quando ela descobriu o vínculo?
Meus dentes rangiam, eu apertava cada vez mais aquele pescoço, sentindo o cheiro de sangue que escapava em finos filetes de sangue que escapavam pelas feridas que causei com a minha garra.
- Sua... liber... dade.... Es... tá.... em... min........
A gárgula se regenerava e eu estava perdendo minhas forças... era um jogo perigoso, já que a peça que movi poderia significar minha morte. Togarini se encontrava ali, assim como Geburah. Ambos agiam tanto por mim, quanto pela gárgula em um complexo cenário onde ambos eram vítimas e predadores.
- Não me peça para fazer isso, Alice.
- Você ainda pode matá-la, inquisidora.
- DESGRAÇADA!
Meu corpo caía ao chão, sem forças, mas não inconsciente o suficiente para sentir a gárgula agarrando meu capote e erguendo meu corpo mais uma vez.
- Dê-me uma morte honrada... Descubra o nome de minha criadora e dê-me uma morte honrada, mas não fique mais de braços cruzados... Dê-me reais motivos para que eu a mate inquisidora, enquanto honro minha palavra...

1 comment:

Samuel Medina (Nerito Samedi) said...

Hum... vejamos... estou um pouco perdido. Quer dizer, o que mais me intrigou foi quando Alice diz que tanto Geburah quanto Togarini são vítimas e predadores. Foi isso mesmo? Agora, a fala da gárgula no final do episódio foi muito boa. Uma espécie de tapa na cara da Alice. E acho que de todos os humanos... tão prepotentes em sua humanidade. Acho que essa frase expressa bem como um ser humano pode ser desumano...
Também quero entender melhor a relação entre os arcanjos e a gárgula. Por causa do trecho que dizia que eles agiam tanto pela agente quanto pela guardiã dos Morgan. Será que você poderia deixar mais pistas nos capítulos vindouros?
Aguardo a continuação!