Friday, September 04, 2009

Assim será...

Não compreendia porque ela me perguntava aquilo, porque me olhava daquela forma consternada e receosa como há tempos eu não a via desta forma.
- Milady?
A voz de Ângela arrancava-me daquela visão que por breves momentos eu tive. Uma visão que me estremecera diante da figura sombria, que crescia aos gritos de todos os que morreram nas mãos de meus inimigos. Havia sangue e um terror crescente, mostrando-me a queda dos Morgan em tempo presente. Jamais havia me intimidado de igual forma, nem mesmo os inquisidores que um dia exterminaram quase por completo minha linhagem na invasão do Castelo, quando fomos declarados inimigos de Deus. Hereges que deviam ser ceifados por se aliarem aos demônios que protegiam o nosso reino.
- Mate-a, antes que seja tarde demais. – Murmurei desvencilhando olhos e corpo ao que ela se aproximara em sua dedicação completa.
Togarini havia movido sua peça, a mais forte dentre elas. Conhecia-o bem e sabia que era chegado o tempo de nosso verdadeiro embate. Alice havia usado sua necromancia, isso era claro de fato. Eu desejava aquela alma que se rebelara contra meu domínio, usá-la-ia como exemplo para outro corrompido. Usava minhas palavras aos lábios da feiticeira, tornando mais forte o comando perante aquela com um código de honra para cumprir. Mas jamais saberia o que Christine viu em sua mente, em seus olhos que manipulam as linhas de seu destino, então me restava manipular a gárgula aos meus desígnios, antes da Alice voltar a ser a besta desenfreada desejosa de sangue e almas.
Tudo que havia sido levantado sobre o caso, passava diante de meus olhos, algo me dizia que Alice estava escondendo algo. A velha sensação de proteção, àquela que despertara em mim tal sentimento, berrava, acelerava meu coração e minhas mãos espalhavam os papéis ao chão. Por algum tempo tive que renegar Geburah, por maior que fosse meu senso de justiça acima de tudo. Peças eram movidas em um tabuleiro que eu não conseguia enxergar e o necromante viking se mantinha silencioso, observando pela janela uma tempestade que estava para chegar.
- Sinto-me inútil, não podendo ajudar! – Berrei ao que as folhas se espalhavam pelo chão. Um castelo de cartas que se desfazia diante de minha frustração.
- Essa batalha não é nossa, Jean. Jamais nos pertenceu. – Olhei para o cavaleiro, aquele príncipe encantado. Cachorrinho perdido que pressentia a perda de sua dona e mesmo parecendo tão frio, meu coração se apertava, pois Togarini deixava claro aos meus olhos, mesmo estando tão distante de minha presença, que Alice voltara aos primórdios antes da influência de Geburah. Jean tentava ser imparcial, mas por quanto tempo mais ele agüentaria ficar ali sem interferir?
Ri, sentindo mais uma vez a “liberdade”... Sentindo aquelas lembranças que cresciam em minha mente, mostrando-me a caça que um dia fora feita. Ri com o êxtase sentido por Togarini, ao matarmos o demônio que clamava para não ser extinto. Andava cambaleante em meus ferimentos, vendo as pessoas abrirem o caminho. O medo era o alimento perfeito, aquilo que aprendi a amar, depois que selei meu pacto com Togarini. Depois que Thorn salvou-me de minha auto-cosimeração.

1 comment:

Samuel Medina (Nerito Samedi) said...

Depois de séculos de ausência, meu personagem favorito retorna. Pude sentir toda a amargura nas palavras do Thorn ao chamar Jean de príncipe encantado e de cachorrinho ao mesmo tempo. Enquanto pude sentir como o Jean se sente intimidado diante do necromante viking. Belas imagens, uma conversa de dois avatares de anjos adversários, prenúncio de uma tempestade espiritual, enquanto no "mundo real" uma tempestade se aproxima. Belas imagens, cara amiga. Pude ter um gostinho de como o Geburah pensa e fiquei um pouco decepcionado. Ele parece mesquinho demais. Agora entendo o que você quer dizer quando o chama de canalha...

Aguardo suas próximas imagens...

Nerito