Sunday, October 19, 2008

Passeios Noturnos

Thorn andava ao meu lado nos últimos dias. Estava preocupado por conta da gárgula. Há séculos ninguém relatava a aparição desses espécimes. Mas entre todos os relatos, havia uma enorme dúvida de qual era a origem desses seres.
Algumas pessoas os viam como estátuas vivas, mas que só podiam agir durante a noite, pois por serem criaturas noturnas, o sol as proibia de vagar pela face da terra.
Outros os viam como demônios, que atormentavam os mortais durante o sono, desejando ganharem vida, fazendo os escultores esculpir um meio de eles poderem andar entre nós.
Havia também as histórias de escultores que precisavam ter grande conhecimento em magia e ocultismo, mas que nesses casos, as gárgulas, como forma de gratidão, protegiam seus criadores.
Mas há dentre todos os relatos, o meu preferido...
Anjos que em sua rebelião junto ao Primeiro, foram usados como exemplo para fazer com que demais anjos não caíssem na tentação. Suas asas angelicais foram arrancadas, junto com a luz que possuíam e sua beleza. Em meio à tamanha dor e castigo, suas asas ganharam aspectos de morcego. Chifres cresceram em suas frontes. Garras tomaram lugar das pontas dos dedos e tantas outras mais transformações ocorreram...
- Não mais merecem ser lembrados como eram. Merecem ser associados aos atos horrendos que cometeram contra seus irmãos e principalmente nosso Pai. Amaldiçoados sejam hereges, pois de nós, merecem apenas desprezo.
- O que sussurraste? – Perguntou-me Thorn após escutar minhas palavras que vieram em pensamentos altos.
- Estava me recordando de todas as possibilidades do surgimento de uma gárgula. – murmurei.
As ruas pareciam desertas naquela noite e Thorn sorria, andando ao meu lado em seu jeito nórdico de ser. Nada de abraços, carinhos afetivos, nem mesmo mão dadas e eu apenas o olhava de soslaio de vez em quando, justamente por ele respeitar meu jeito isolado de ser.
- Muitas na verdade, apesar de apenas quatro serem as mais conhecidas. Você mesma pode criar uma gárgula se quiser Alice, eu já ensinei a ti como fazer isso.
- Sim, você me ensinou isso, mas também me ensinou que toda magia cobra um preço.
Thorn começou a rir e então me solta o comentário que ele sempre soltava para ver se arrancava um sorriso de mim:
- Suas roupas que o digam. Quantas vezes? Cinco? Seis? Ainda posso me lembrar de teu comentário, quando Vinnie viu pela primeira vez teu sobretudo entrando em combustão espontânea. Dele não acreditando em sua naturalidade em apagar o fogo como se nada estivesse acontecendo e ele correndo para checar o carro...
- Para ver se não estava vazando gasolina... Sim... Ele não viu apenas uma vez, mas duas vezes e começou a achar que alguém estava tentando me matar, usando produtos químicos altamente inflamáveis – suspiro, complementando o discurso do necromante que tinha mudado de assunto, ou que tinha apenas resolvido se divertir com momentos em que não consegui manipular a magia tão bem como deveria.
- Qual dos casos, achas que pode ser a gárgula que caçamos? – Pergunta-me, observando-me atento e nada mais pude responder a ele além das únicas formas, onde há uma pessoa presente.
- Ela pertence a uma escultora, a qual pratica magia.
- Tens certeza? – Perguntou-me Thorn.
- Pude presenciar um ato de submissão muito grande da gárgula. Ela mostrou total obediência, apesar de sua revolta em ser interrompida. Chamou-a de Milady e não se preocupe. Eu pesquisei bem... Nossa Gárgula tem desavenças com Inquisidores, principalmente se for da linhagem McArthur.
Thorn me olhou longamente e suspirou.
- Então já sabes quem é nosso alvo e estamos apenas passeando? – Thorn me olhou de forma séria e soltou em tom baixo – Isso é um encontro srta. Alice?
Ri. Não tive como não rir naquele momento. Thorn só podia estar brincando se achava que aquilo era um encontro. Vinnie tinha encontrado tudo que era possível sobre as ultimas aparições de gárgulas. Ele em sua genialidade conseguiu descobrir que haviam duas famílias envolvidas. Os McArthur e os Morrigan. Eu precisava ver a reação da gárgula com a primeira família, pois tal linhagem era conhecida por ter feito parte dos Inquisidores justamente na época em que os conflitos foram mais fortes.
- É estranho ver você rindo, poderia te comparar a Wandinha Addams, que assustava as pessoas com um simples sorrir. – Falava-me, enquanto mantinha seus passos, observando as ruas desertas, já se mostrando um pouco atento a essa estranheza toda.
- Estás apenas tomando conta de mim, enquanto me recupero por completo e sim... Nós não estamos sozinhos... – Murmuro olhando de soslaio os arredores – Nossa predadora está esperando o momento certo... Por enquanto...
Paro de falar e de andar. Thorn para também e olha ao redor.
- Ela está apenas avaliando o terreno e sua presa.

2 comments:

Lais Camargo said...

ah, as aventuras de Alice me encantam...
fica até com vergonha de mal conseguir alimentar um blog e comentar de vez em nunca nos seus, mas juro que sempre leio e aprecio demais! deixo o silêncio falar...
nas entrelinhas.

sopros de luz!
=*

Samuel Medina (Nerito Samedi) said...

Puxa... eu tenho certeza que pintou o clima entre Thorn e Alice. E eu fiquei um pouco enciumado. Quer dizer, me desculpe, mas se eu fosse brincar de Alice Lupin, eu escolheria ser o Jean. Por isso, hehehe, acabo pensando como ele se sentiria se soubesse de um caso entre Alice e Thorn.
Mas eu tenho certeza que os dois necromantes têm um laço muito mais profundo que o sexual. Só falo de ciúmes como um leitor infantil defende seu personagem favorito.
Agora, será que o Primeiro a que Geburah se referia é o mesmo Primeiro do qual Alice fala? Se for... hehehe... as coisas ficam bem mais interessantes...
Mas haverá alguma relação entre Jean e o Primeiro?
Outra coisa: Existe alguma exigência para que alguém possa tornar-se um avatar? Existe a ocorrência de avatares com sangue angelical???
Gostei muito sobre a explicação das gárgulas e sua fabricação. Foi bem interessante e didático.
Agora, sobre o presente, estou com vergonha >_<... Mas me sinto lisonjeado! Sem palavras mesmo...

Sinceramente,

Nerito