Friday, January 02, 2009

Após o Revéillon

Eu não sei o que era pior, se era uma gárgula solta por Nova Orleans, aumentando as estatísticas de que o Natal pode ser a pior época para se andar sozinho durante a noite, ou se era ter que ficar com uma camisa de força, à base de sedativos e ter os raros amigos cuidando dos meus convidados especiais.
Não sei o que era pior, se era em meu estado quase coma, sentir as rivalidades entre Jean e Thorn aumentando para ver quem cuidaria de mim, ou se era ver que nessas épocas de festividades eu me tornava uma completa inútil e que seria mais fácil se dessem um tiro em minha cabeça.
Certas feridas nunca cicatrizavam e a mais profunda foi feita justamente em uma festa natalina.
Quando meu irmão resolveu mostrar sua verdadeira natureza e que fui apresentada, mais uma vez ao hospício.
Quantas vezes me feri, tentando me libertar de minha camisa de força, gritando ensandecida que eles estavam libertando no mundo monstros que iriam dilacerar suas almas?
Quantas vezes me debati contra a parede, tentando em manter desperta, mesmo depois dos sedativos.
Os sedativos estavam ficando cada vez mais fortes, já que eu estava lutando e criando resistência contra eles.
Foi em uma noite de Natal, quando minha mente estava quase enlouquecendo e eu já estava começando a implorar para que meus demônios interiores me matassem, que ele surgiu, acariciando meus cabelos, olhando-me como aqueles olhos tão cinzas quanto a inexistência da vida.
- "Eu sei que você não está louca e sei como trazer seus pais de volta, mas toda magia possui um preço Alice. Você aceitaria este presente que estou te dando?"
Naquele dia eu aceitei, eu disse sim e mergulhei a minha vida em algo que modificaria todos os planos traçados por Deus.
E quão deliciosos foram os dias que se seguiram, onde os piores dias para mim, eram os dias em que o barbeiro demoníaco sentiria inveja.
Quanto maior era minha dor e meu sofrimento, quanto piores fossem meus pesadelos, mais eu me aproximava do Inferno e o purgatório estava ali...
Tão palpável...
Tão presente...
Tão real com aquele demônio erguendo Thorn e Jean quase sem vida...
- NÃÃÃÃÃO!!!!
Meus olhos se abriam repentinamente e as chamas se espalhavam ao meu redor.
A camisa de força caía pulverizada ao chão, atingindo em cheio meu convidado de honra, meus amigos a sala inteira.
Naquela noite, que era a renovação de esperanças em que fogos de artifício davam boas vindas para mais um ano vindouro, uma sala da seção 9 quase explodiu e foi bem trabalhoso, para eles trazerem de volta dois necromantes e um paladino.
E pensar que hoje é ainda o segundo dia de um ano novo...
- Desta vez você não perdoou a nossa briga, não é mesmo? - Perguntou-me Thorn sorrindo em uma cama logo ao meu lado.
- Vocês dois deviam saber, que brigas perto de quem está dormindo, sempre leva para os piores caminhos. - resmunguei rindo, sentindo um pouco de dor.
- Me lembrarei disso, da próxima vez que eu for brigar com o necromante. - Resmungava Jean na cama do outro lado.
- Eu devia ter deixado vocês no Inferno, mas como isso me deu pontos...
- ANDERSON!!! - Gritamos os três com o chefe da seção 9. Talvez, apenas talvez, por ele estejamos aqui, conscientes e lembrando que 2009 será um longo ano e que novos casos nos aguardam. Afinal? Quem disse que Anjos e Demônios tiram férias?

1 comment:

Anne Caroline Quiangala said...

Interessante a forma de Alice pensar e sentir. Absolutamente visual. A interação das esferas interor-exterior. Nossa. E viciante.