Thursday, September 03, 2009

Se é assim que desejas...

Não muito distante ela estava de mim, eu poderia ter ficado ao chão, ter morrido naquele momento de paz que Togarini me manteve enquanto sofria de alguma forma em meu desejo de morrer. Minha mente embaralhava com sentimentos meus e com os do arcanjo da morte. Em minha alma pétrea e desacreditada, eu poderia dizer que ele apenas não desejava minha morte, pois me perderia de uma vez por todas para Geburah. Mas o anjo negro, regente dos necromantes, deixava uma pequena fresta se mostrar, em meio a sua alma de sangue e sadismo constante.
Geburah envolvia Ângela em seus braços, sussurrando-lhe ao ouvido palavras que eu bem conhecia. Mesmo distante aquele crápula movia suas peças do modo mais pérfido. Mesmo com os corpos ausentes de minhas vistas, ela ainda estava por perto. Arrastava-me, isso era fato presente aos olhos daqueles que não se faziam presentes, deixava uma trilha de sangue, dos ferimentos abertos, mesmo não cuspindo sangue.
Corpos mortos, sangues... Poças de sangue grandes o suficiente. Corpos mortos recentemente e eu sorria.
Sorria enquanto deixava meu corpo cair de joelhos, tendo o corpo de um demônio entre eles.
Eu não tinha a trilha da vida, mas corpos são corpos e almas são almas. Símbolos traçados com o mais rico ingrediente.
- Ainda não é tua hora! – Murmurei sadicamente.
Deixava meus lábios, murmurarem à criatura abatida o amargo regresso. Seu corpo estremecia, queimava em suas entranhas, enquanto minhas mãos mostravam aquele fogo fátuo. Acorrentando-o, prendendo minha deliciosa presa que estava se recuperando em seu reino.
- Mal...ditos... se...jam... – rosnou o demônio acorrentado, vendo sua existência preste a ser dissipada.
- Há tempos o Arcanjo da Justiça tem dado baixas em seus exércitos.
- Isso nunca nos impediu... Inquisidora... Sabes bem disso...
Ri sarcasticamente, deixando que o demônio visse aquilo que ele não queria.
- Tog...
Meus dedos cravavam à pele do demônio aprisionado, puxando-o contra o meu corpo, enquanto meus olhos mudavam de cor constantemente. O fogo fátuo alterava para o verde, depois enegrecia, para o pior dos pesadelos que um demônio poderia vir a ter.
- Ele rouba em seus golpes baixos, almas que não lhe pertencem. Mantendo-se na graça do velho bastardo. Por tão menos teu regente fora desgraçado. Por tão menos teu regente perdera esposa e quase perdera a filha.
Queimava-o, consumindo-o como um bom vinho. Sentia o deleite da alma torturada por fogo e do sangue que fervia em suas entranhas.
- O QUE QUEREM DE MIM? – O rugido estremecia os adormecidos a quilômetros, lançando uma sombra de terror em seus corações.
A insegurança do lar aumentava em suas vidas, enquanto os cabelos negros repousavam ao corpo derretido.
- Suas lembranças... Sua alma...Sorri, erguendo-me em delicioso triunfo, deixando a trilha de sangue aumentar. Meus dedos deslizavam pela parede, manchando-a com os restos de um ritual necromante...
Moooorgaaaan...
Christine Morgan estremeceu por um breve momento, recuando seus passos para trás. Havia perplexidade em seu rosto. Há séculos não a via consternada, como vi naquele momento.
Ângela estava recoberta de sangue, minha gárgula parecia em paz mesmo com o coração arrancado. Quem era aquela sombria criatura que se mantinha sobre ela que me olhava de soslaio, mostrando-me igual fim a que minha gárgula teria?
- Quem é você?

1 comment:

Samuel Medina (Nerito Samedi) said...

Amiga,

Confesso que não entendi este último episódio. Talvez por causa do meu cansaço, talvez por causa do estilo fragmentário e polifônico. Eu posso estar enganado mas aí vai o que eu "acho" ter entendido:
Geburah manipulou a gárgula para atacar Alice mais uma vez.
Togarini matou a gárgula e usou seu coração para salvar a vida da Alice.
Mas e esse demônio no meio disso tudo? Ou será que o demônio que foi usado para isso? Ou então Geburah, com algum propósito obscuro, matou Angela. Mas a descrição do que Christine Morgan viu é mais parecida com Togarini do que com Geburah...
Hum... vamos ver então o que você tem nas mangas para os próximos posts.

Abraços