Wednesday, December 21, 2011

Post Mortem - IV


Escuridão...
E aqueles lábios macios...
O ar saia em um suspirar desanimado e meus olhos se abriam aos poucos.
Ali estava aquele rosto másculo e ao mesmo tempo com traços delicados. Ele mantinha seus olhos distantes, vazios, mas por que pareciam aliviados?
Mal pude dizer-lhe adeus, ele apenas partiu, ali, em meus braços...
Lentamente meu corpo foi erguendo. Eu não queria partir, não queria deixá-lo ali naquele lugar escuro e sem vida.
Seu corpo foi se distanciando, se desfazendo em névoa ou trevas, não estou bem certa sobre este fato. Talvez fosse apenas uma lembrança com o mesmo sabor amargo que eu sentia em meus lábios...
Não, aqueles lábios que beijei não eram amargos e sim macios com o sabor de liberdade, um sabor inesquecível.
Meus dedos relembravam aquela maciez, enquanto meus pensamentos vagavam por outras paragens.
O aroma das lágrimas, da angústia apertada ao peito. De mãos feridas e desejos de suicídio... Homicídio... Fratricídio... O cheiro de morte empesteava o ar.
Respirei fundo e fechei os meus olhos. Escutava murmurares em uma língua conhecida. Havia rouquidão naquela voz que me deixava curiosa. Meu cenho franziu à medida que meus passos me guiaram àquele lugar.
A escuridão foi sendo trocada por uma suave luz de velas... Na verdade várias velas se espalhavam pelo local... Traços riscados à madeira úmida de sangue... Sangue fresco recém derramado salpicado por paredes e bolas de vidro quebradas com o impacto...
Abaixei-me e senti com as pontas dos dedos a viscosidade do sangue. Minha pele arrepiou levemente ao me deparar com aquela árvore caída ali...

1 comment:

Samuel Medina (Nerito Samedi) said...

Então as narrativas escuras retornam. Volta e meia eu visitava este espaço para ver se havia alguma atualização. Agora, o que está reservado para Alice? Ela está no mundo espiritual ou viajando dentro de seu próprio eu, cercada por sua culpa e suas memórias?

Abraços...