Wednesday, November 04, 2009

Mas Jamais Fugirá...

Meu corpo treme e eu já não sei se é por êxtase, ou por estar sendo consumida com a presença de Togarini que está a tanto tempo manipulando meu corpo. Não que eu seja contra, pois não me sentia liberta desde o recrutamento do FBI...
FBI?...
Não posso culpar Jean ou mesmo Anderson por seguirem Geburah. E se eu gostasse de manter as práticas do Opus Dei, diria que a culpa é minha e do Arcanjo da Justiça que entrou na minha vida.
Estava cega pelo desejo de vingança contra o monstro que matou meus pais, desejava eliminar toda aquela dor que eu sentia, infligindo isso a um culpado qualquer que eu encontrasse.
Fui capaz dos atos mais atrozes e não posso dizer que me arrependo, pois estaria sendo hipócrita, mas também não posso fingir, que alguns poucos casos, às vezes me fazem olhar o passado e ter essa sensação de vazio.
Talvez, não sei, mas talvez, desde meu nascimento, eu optei por escolher uma vida solitária. Motivos? Porque assim, eu não magoaria, não faria as pessoas chorarem, ou sentirem a minha falta. Mas a humanidade é engraçada em um dos desígnios de Deus.
Ajudai uns aos outros e não os deixei cair em tentação.
Então qualquer tipo de fuga que seja, é vista como uma abominação que deve ser extirpada.
E cá estou eu, em meio a tantos corpos dilacerados, com seus corações arrancados, olhos devorados, saboreando os sonhos, desejos e sentimentos que cada uma de minhas vítimas tiveram, enquanto Togarini usava meu corpo para saciar sua fome mais devassa.
E não me arrependo...
Mas às vezes, são os sentimentos delas que estremecem meu corpo, me fazem suspirar mais forte e pensar...
Ela estava pensativa, sentada em seu trono de corpos mutilados, coberta de sangue da cabeça aos pés e a única coisa que destacava eram aqueles olhos ferinos; amarelados tais quais de uma tigresa a espreitar. Estava a analisar o porte dela, a respiração, o olhar. Havia a ferocidade, mas também havia um vazio capaz de sugar qualquer um que a encarasse. Meu corpo estremecia, talvez de êxtase, talvez receio. Mas eu não me arrependia de tê-la apresentado ao Arcanjo da Morte. Alice era uma pessoa que desejava acabar com aquela dor e talvez, se Geburah a tivesse encontrado antes, ela poderia ter morrido mais cedo. Ou talvez, Alice só tenha perdurado esse tempo todo, devido às desavenças dos dois arcanjos desejosos por aquela alma tão sombria. Sim.. Eu conheci Alice, antes mesmo dela firmar pacto com os dois Arcanjos. Fui seu primeiro guardião, talvez por ver certa fragilidade naquele corpo, aquele desejo por morrer e não querer ferir mais ninguém. Escutei seus gritos e implorares capazes de despertar desejos estranhos e dos mais variados possíveis em qualquer criatura. Nas terrenas, compaixão e pena; nas infernais, lascívia e deleite; e nas celestiais; ambição e vingança.
Não me arrependo de ter acolhido aquele corpo frágil, com alma tão forte e capaz de segurar dois arcanjos. Sei que isso será a causa da morte dela e apesar deste coração de pedra que tenho em meu peito, começar a esmorecer, minha interferência resultará na morte de muitos, principalmente dela.
Eu já não sabia mais que olhar era aquele. A primeira vez que a prendi, o aspecto dela se encontrava da mesma forma. Eu vi que não era ela quem estava presente. Havia tanta maldade ao olhar, mas dessa vez... Era diferente.. Havia aquilo, mas também.. Havia um vazio... Uma certeza... Meu corpo estremecia perante os sentimentos que me consumiam. As dúvidas que começavam a brotar em meu peito, de que não haveria mais salvação, de que o Arcanjo da Morte havia vencido e que eu perderia a companhia de Alice de uma vez por todas. As escolhas eram difíceis, mesmo tendo sido os Inquisidores, a própria justiça, que tenham matado muitos de meus ancestrais, tornando-os hereges; Os tempos de hoje exigiam que fizéssemos pactos com seres de outro plano de existência, para que a balança se mantivesse equilibrada. A princípio, não concordei com Geburah, pois o alvo remontava minhas origens. Alice por muito tempo conseguiu mostrar o quanto estávamos sendo manipulados naquela situação em que a Justiça prevalecia dos dois lados e que estaríamos quebrando nossos princípios tomando partido, mas hoje tenho minhas dúvidas, depois de avaliar o saldo de mortes. A Gárgula matou bem menos do que a Alice, desde que esse caso começou. Sei que não posso mais ficar ausente, mas também sei que dependendo da minha decisão, o resultado final significará uma morte. Resta-me descobrir se será a minha morte, a morte de minha alma, ou a morte de meu coração. Temo por qualquer uma das respostas, pois posso vê-las aos olhos de Alice.
Desde minha conversa com Lúcifer, venho andado de modo cauteloso. Não por temê-lo, mas por pensar em suas últimas palavras. Não aquelas de que eu já havia perdido minha batalha para o Arcanjo da Morte, mas no que ele disse sobre estratégias militares.
Maldito seja o portador do conhecimento, pois de forma esmagadora ele sabia como acabar com qualquer convicção. Ao trazer à tona as lembranças de meus irmãos que me julgaram aos seus olhares, quando minha declaração de guerra causou a morte de Ramiel. Certas batalhas são vencidas com espadas, lanças e corpos mutilados, mas outras batalhas... Simples palavras já bastavam.
Onde estás meu Pai? Por que me abandonaste desta forma?

O corpo dela estremecia. Era um corpo humano apesar dos pesares. Deixei que ela descansasse por um tempo e fiquei a observar a forma que Jean e Thorn observavam Alice. Havia dúvidas, resignações. A morte da avatar estava clara aos olhos deles e minha presença apenas aumentava esta certeza. O que eles não sabiam é que esse desejo era dela. Desde o princípio sempre fora o desejo da agente, encontrar a morte. Se não comigo, teria sido com um dos outros seis e talvez, no caso deles, a vida dela não teria sido poupada e o desejo dela teria sido atendido. Pode ser um lado sádico meu, mantê-la viva e tê-la tornado minha avatar devido ao potencial dela. A busca não apenas da própria morte e o desejo de sangue em sua alma vingativa, sempre esteve presente, o que me tornou mais canalha que Geburah, ao deixar Alice aceitar o acordo com ele. Eu poderia ter impedido. Mas.. No fim das contas... Afeiçoei-me a esta mortal... Não por amá-la, como Lúcifer um dia amou uma mortal, mas pelo simples fato de que posso ver-me refletido aos olhos de Alice.

2 comments:

Tim Marvim said...

Olá, Tyr Quentalë, seu estilo é bastante instigante e demonstra grande domínio sobre o que escreve. Se você gosta de ler romances de literatura fantástica, conheça meu livro “666 – Caçadores de Demônios” no blog http://666romance.blogspot.com


Trata-se de um romance de aventuras e mistérios, na linha de O Código Da Vinci. Após ter descoberto segredos preciosos guardados a sete chaves pela cúpula da Igreja, Michael é acusado pelo assassinato de um velho amigo e foge do convento onde vive. Para provar a sua inocência, tem que desvendar um extraordinário enigma templário, que está ligado a uma profecia de Nostradamus, ao apocalipse de São João e ao próprio fim do mundo...

Abrção

Samuel Medina (Nerito Samedi) said...

Depois de muito, muito tempo... eu retorno aqui. Peço desculpas por minha ausência.
Foi interessante saber que Togarini é apenas um dos anjos da morte e que há outros seis. E esses outros terão algum papel na trama? Veremos. Acho que esses anjos estão ficando cada vez humanos e isso é bom e ruim. Bom porque desmistifica e desestrutura o papel dos anjos perfeitos. Ruim porque... bem, anjo é anjo, não é mesmo? Sempre os vemos como seres sublimes. Então ficamos assim... Verei o que me aguarda nos próximos capítulos...